7.12.06


Tenho sim, urgência da vida. Mas é urgência pelo excesso de sentimentos, pelo segundo que parece eterno. Por esse tempo alongado só porque você não está aqui. Ou só por coisas que me atormentam e não me deixam seguir. Ou só porque tenho a mania boba de estar sempre agora e de às vezes acreditar que é isto mesmo. Queria um agora menos intenso e acreditar que este tempo pode ser mesmo vazio ou simplismente calmo. Um tempo sem tormentas e alucinações, em que vejo o tempo passar. E não me angustio disto. O tempo passa e continuamos aqui. A chuva vem e sinto o seu cheiro. Tenho sede e pego um copo d`água. Mecho em minha sonbrancelha para esquecer e escrever. Mas ao escrever não esqueço. Pelo menos por agora. Procuro a música para me acompanhar. Ouço a música e ouço a chuva. E me alegro disto. Alegre talvez não seja a palavra. Mas enche meu peito de uma substância, que é energia correndo. E isso, não posso negar. E é sempre assim. O tempo passa e continuamos aqui. Ouvindo as portas baterem e se abrirem eternamente. Até o momento de não se abrirem mais e permanecerem fechadas.

Mariana Ribas

tour de pertencimento


não que eu tenha tempo de fazer. Mas é que essa sensação de pertencer me é muito agradável, sabe esse simples sentindo de me sentir seu. Meus pensamentos viajam até um inalcançável momento entre dois redemoinhos girando em movimentos opostos. Não sou esse, nem quero ser; quero é poder fazer o que já está feito, de sentir o que foi sentido; quero andar entre as nuvens de lembranças e as letras de esquecimento. Vou te acarinhar em uma noite e dizer que está tudo bem. Que tudo está feito. Dizer que essas palavras essas frases são tiradas de algum livro antigo escrito por algum poeta consagrado. Consagrado por anos escrevendo em um quarto escuro, sem conseguir atingir o concreto. Somos todos abstratos nessa dança, nesse movimento; sinto que nossos corpos se entrelaçam e somem em um mundo criado, imaginado por alguém que deseja... Sejamos assim; submersos, dispersos que nossa poesia possa atingir o inacessível, e que o sol não se ponha antes do sorriso.


Thiago Romero

Transito


Eu vivo em trânsito. Transito em mim, mas não encontro nada. Nem pensamentos, nem lembranças. Fico assim nessa velocidade desenfreada. Não lembro. Não conto. Tenho um vicio de guardar tudo bem lá no fundo, de esconder, de deixar tudo assim: nessa velocidade estática.

Sonho? Sonho sim!

Um rapaz de pele morena, dentes fortes um sorriso espontâneo, e uma pele macia. Dentes, muitos dentes brancos. Um sorriso que me diga que algo não foi passado, que está tudo ali, no real. Não que eu viva na poesia, mas ela me conforta, me expande. É do instante poético que falo. É nele que relato toda essa vontade de poder andar em alguns centímetros acima do chão. De me molhar na chuva e de senti-lo aqui. Em cima, dentro... De lembrar do suor dos cabelos dele escorrendo rumo ao meu corpo.

Atrás da ilha surge uma luz âmbar...

Sou um vaidoso, um adorador do escândalo, queria ser o primeiro a parar de contar as horas, queria poder dispensar a previsão de que todos esses momentos pudessem um dia voltar. Olho no fundo dos meus próprios olhos e tento descobrir a verdade.

Uma praia deserta e um rapaz branco passa,

Passaríamos assim se fossemos transeuntes normais, mas não desejamos o encontro, as línguas se misturando, e te encontro e um sorriso paralisa, talvez tudo pudesse ser ameno se o tempo não fosse um trem que corre para fora de mim...

O vento corre pela noite e a lua avisa que logo o dia vai raiar

Thiago Romero

sonho


Eu não sou sonhador, sou apenas o tipo de pessoa que traz a marca inconfudivel, pertenço aquela especie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber porque. Vou ao fundo nas coisas, ainda que fique por lá. As vezes eu vou e não volto ou então quando volto não sou o mesmo. Estou alem da voracidade. Tenho vinte e poucos, mas já me deram mais; pode ser culpa dessa maquiagem barata que insisto em usar.
Moro! Moro aqui pertinho. Vivo no meu castelo. Lá tudo é colorido. Você nunca viu nada parecido, tudo pintado em tons de vermelho. Adoro Vermelho: vermelho paixão, vermelho romã, vermelho desamor, vermelho sangue. Você gosta de vermelho? Não tem nada mais lindo do que quando um rapaz de lábios vermelhos beija minha boca. Você quer me beijar minha? Me beije por um instante e perceba quando tempo ainda nos resta.

Thiago Romero

6.12.06

O que pretendo

















O que pretendo? A carne.
Ainda que adormecida e mal digerida.

O que consigo? O vício.
A fumaça que perfura os poros
O líquido que sai de mim.

A medida? Desmedida
Comensurada e aberta
A cara a tapa

O amor?
O amor.

A vontade? De permanecer
Mesmo que transitória e exposta.


Mariana Ribas

Dos amanhecimentos


Eu não sou esse mar calmo, nem esse vulcão preste a entrar em erupção; prefiro apenas que chame como aquele que se precipita; não tenho tempo de ida, sou daqueles que fica, permanece sempre a beira do abismo no limite possível de aproximação entre a aceitação da noticia e o reconhecimento dela, eu a s vezes queria ir, mas não vou; eu fico, permaneço, amanheço, tardo, e anoiteço; sempre aqui... Vou ficando...Continuando a tingir meus muitos cabelos a espera desse vento bom, e eu me pergunto: onde se encontra o coração de tudo isso? Essa estranha vontade de desaparecimento me assusta, pois não sou daqueles que tem a invisibilidade como trunfo; eu não ganho, nem perco, eu simplesmente não jogo... Meu jogo vem apenas desse corpo disposto que arde, que treme... Eu ardo; ardo de um calor inexplicável... Minha boca não fala, ela não consegue traduzir em palavras o que meu corpo sente, e displicente o meu corpo continua ardendo, derretendo como se o sol o queimasse de uma forma nunca vista. E se um dia eu não estiver mais aqui? Não... Eu não te pergunto isso... Pergunto a mim mesmo agora: e se um dia eu perceber que não estou mais aqui?... Por isso agora vou me reunindo juntando minhas coisinhas, porque o amor não dura tanto... Esse azarão está sempre disputando sua ultima corrida. em busca de que? Eu não sei... O que eu sabia e sei é que agora exatamente agora eu estou nu, porque quando a verdade é dura a injustiça é uma puta... Queria ter um vidro de cola agora para poder passar nas minhas mãos, só para poder ter a sensação de retirar a minha pele, como se isso pudesse me fazer ver que existe uma pele e que esta pode ser retirada.

P.s: Agora existe um muro na minha frente e eu não sei se vou conseguir subi-lo sozinho... e aquele anuncio ainda não acendeu...

Thiago Romero

Sobre a falta

A falta que sinto não me move
A falta vem com o sim que não foi
Digo que vim e fiquei
Encontro o labirinto que me guarda
Entre espelhos e infinitos formados sou apenas
meu reflexo
projeto a sombra na luz do quarto escuro
e digo coisas sem sentido
olho o porta retrato vazio com a foto no mesmo lugar
a mesma de sempre
guardo o sorriso que me deu e me contento
ocupo o outro lado da cama e me espalho sobre ela
tem espaço
tenho espaço de dizer o que quero
e sobrar
sobra o vazio quando não me diz
corro muito e estou cansada
a respiração não se enquadra no espaço pictórico
formo um quadro
estou na sala de cinema sozinha no canto
com o meu cigarro
o meu quadro está formado
vejo o vazio das cortinas semi-serradas
e na grande tela não passa filme algum, mas a platéia continua lá
a espera
de quê?


Mariana Ribas