25.9.07

Presságio




A confirmação veio sem esforço
tenho medo das minhas palavras,
sei de verdades antes mesmo delas se saberem verdadeiras
e quando se tornam, não me surpreendo mais
galho e tronco de árvore que sou
por um acaso da natureza, me vejo executando tudo o que suas belas palavras
apenas deixam no ar
e sobra a mim a sua concretude
e não adianta mais água jogar
o tempo de pega já passou
e pedra e água não reagem mais
...
às vezes me pego feita de cal
amolecendo a transparência da água
mas a água, logo se torna branca e deixa de ser translúcida
e volto a ser pedra de novo
concretude sem explicação
a dor de se saber concreto mesmo sendo água
e carregar seu peso
mesmo que sem querer
a dor de se executar concreta o peso que no ar não se sustenta
porque a beleza não se sustenta em si
e a beleza do concreto está em sua força
só ele é capaz de se fincar no chão
e agüentar todo o peso que uma beleza tem
ao despencar do ar
...
tenho medo das minhas palavras
são um presságio e rumorejam ao concretizarem o que haviam dito
belas palavras não se sustentam no ar
precisam cair e beber um pouco de terra
encontrar suas raízes e serem galhos e depois troncos
e sentir o vento, quando se é todo enraizado e concreto
o vento verdadeiro que se mostra agora
não o de mentira que carrega as belas palavras embora, mas
o vento que é obrigado a passar por entre os galhos
e sentir sua presença sólida
e assim, e só assim, se saberá realmente verdadeiro
Mariana Ribas